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Audiovisual

Você já ouviu falar de suspensão da descrença? Quando assistimos a um filme – e até mesmo a um comercial de TV – nós aceitamos algumas coisas aparentemente impossíveis ou pouco óbvias no mundo real. Isso acontece porque, quando estamos diante de uma obra audiovisual, nós firmamos um acordo (de forma metafórica) com o que estamos vendo, como se estivéssemos dispostos a aceitar tudo o que aquela obra tem a nos oferecer.

O conceito de suspensão da descrença foi popularizado pelo poeta e filósofo Samuel Taylor Coleridge em 1817, que sugeriu que, para aproveitar uma obra de arte, o espectador precisa temporariamente aceitar as premissas não realistas apresentadas.

É por isso que, quando vamos ao cinema, nós imergimos naquela história e aceitamos aquela lógica cinematográfica, por mais que ela se distancie da vida real. Só assim para nos conectarmos emocionalmente e cognitivamente com o que estamos acompanhando.

Enquanto os livros nos narram as histórias com palavras e demandam algo da nossa imaginação, os filmes e vídeos estão entregando tudo “de bandeja”. Por isso, precisamos aceitar aquilo que vemos.

Não é só magia e faz-de-conta

É claro que a suspensão da descrença é fundamental para assistirmos a um filme de fantasia repleto de vampiros ou hobbits, por exemplo. Mas não é só isso. A suspensão da descrença é necessária, também, para que o espectador aceite que um agente de espionagem possa invadir todos os computadores do mundo de uma só vez, ou que este mesmo espião consiga saltar de um prédio de 50 andares sem ter nenhum arranhão.

E mais do que isso: é a suspensão da descrença que faz com que o público veja o mesmo ator fazendo personagens completamente diferentes e acredite na história.

Os elementos que exigem esse pacto tácito com a obra são ainda mais difíceis de delimitar nos momentos em que essa suspensão é quebrada por meio de um “erro” do filme ou algo inesperado.

É por isso que aceitamos quando um personagem desvia de balas de metralhadoras em um filme de super-herói, mas jamais aceitamos quando isso acontece em um filme realista e naturalista. Às vezes, quando acompanhamos uma história sem grandes efeitos visuais, podemos nos incomodar com um efeito considerado “exagerado” e “malfeito”, mas não percebemos isso quando esses efeitos seguem a mesma coerência desde o início.

Portanto, o pacto da suspensão da descrença exige, acima de tudo, coerência com a história. E isso é possível graças aos primeiros minutos de um filme, que tem o papel de mostrar ao público do que se trata o filme e qual sua proposta.

A mesma coisa é possível com peças publicitárias, por exemplo. É comum vermos vídeos que carregam tons de comédia, o que abre a possibilidade de criar situações “absurdas” em poucos segundos, enquanto peças mais sérias precisam garantir uma consistência em efeitos visuais, por exemplo, para evitar que o espectador deixe de confiar naquilo que assiste, como no exemplo do comercial do Zap Imóveis.

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